top of page

FÁBULAS MINORITÁRIAS

A Mulher que Fazia Dan-Dan

Uma velha piada alongada e rebuscada pelo estilo primaveril do

Por Mino

25 de Março de 2020

ILUST. DAN-DAN.tif

     Noivos, afoitos, adentrando cada vez mais nas carícias permitidas pelo portal das intimidades descortinadas pelo casamento já marcado, Roberval já não se controlava mais com Rosineide.

     Rosineide, conservadora, não permitia que Roberval desse um passo a mais, além dos limites estabelecidos pelo comando central dos velhos costumes.

     Um dia, porém, Roberval, avançou além da linha Maginot, já quase pisando nos meridianos proibidos, muito próximo ao hemisfério limite, na área demarcada apenas para o exercício legal dos ofícios próprios da lua de mel, quando Rosineide, ligando as sirenes do seu alarme íntimo, acendeu os faróis para sinalizar o avanço de Roberval na zona do perigo.

Roberval conteve-se, mas ficou frustrado, quase a chorar. Rosineide disse-lhe então:

     -Não chore, Roberval! Não fique assim! Se prometer se controlar e esperar a hora certa do nosso enlace nupcial, prometo-lhe fazer dan-dan na nossa primeira noite. Será para você melhor do que a primeira noite de um homem e as nove horas e meia de amor. Você dançará comigo o último tango em Pa-ris e eu serei a sua Emanuele, a sua Lolita, a sua atração fatal. Faremos sexo, mentiras e vídeo-tapes.

     -O que é Dan-dan? Perguntou Roberval já quase consolado e instigado pela deliciosa e misteriosa promessa de sua noivinha.

     -Não acredito que você não saiba! Retrucou Rosineide. - Um homem experiente como você, que já conheceu mil mulheres, como mesmo já disse, não saber o que é dan-dan! Deve tá brincando!

     Roberval, diante da noivinha virgem, conservadora e ampla em recatos, não teve coragem de dizer que não sabia o que seria esse tal de dan-dan.

     -Claro, claro...! Dan-dan... Mas jura que fará?

     -Palavra de noiva apaixonada! Respondeu Rosineide beijando-lhe a face.

     Roberval passou as noites e os dias seguintes que antecederam seu casamento, alucinado, nadando em pensa-mentos eróticos, dando asas à imaginação em busca de uma pista para saber o que seria o tal dan-dan.

     Abriu-se para os amigos de seu íntimo círculo, mas nenhum sabia. Perguntou ao Auricélio, o garanhão da turma, o homem das gatinhas, das mil mulheres, dos brotos e das coroas, porém este, recusando-se a admitir que não sabia, saiu pela tangente, afirmando que não trairia Rosineide estragando-lhe a surpresa.

- Se não fosse seu amigo, eu lhe diria o que é dan-dan!

     Roberval ficou de mal com Auricélio, o garanhão. E resolveu aguardar a esperada noite de sua lua de mel para conhecer as mil e uma noites do dan-dan.

     Dia do casamento. Igreja lotada. Arrais e Ayla cantando. Fila interminável de cumprimentos.

     Rosineide no auge, toda de branco, rabo enorme, grinalda resplandecente. Roberval, riso preso, aéreo, ouvindo piadinhas dos amigos (ficou até de bem com Auricélio) mas com o pensamento na lua, ou melhor, no dan-dan, que já estava bem próximo.

     Noite de núpcias. Pousada do Wolfgang, chalé alemão, serra do Mulungu, friozinho gostoso, caminha quente, vinho confortante. Roberval se sentia um astronauta, prestes a pisar em sua lua... de mel.

     Contudo, Shakespeare estava à espreita de um drama novo. Rosineide, quando tomava o seu banho, escorregou no sabonete e foi ao chão. Nada grave. Acordou atordoada e sem memória, que foi voltando aos poucos. Roberval paciente, ia ajudando a mocinha a se lembrar das coisas. Poucos minutos depois, já sabia quem era, de quem era filha e o que estava fazendo ali. Mas não se lembrava, absolutamente, que diabos era aquele tal de dan-dan que Roberval, enfurecido, mil vezes lhe perguntara, antes de sair para o bar e encher a cara, em plena lua sem mel, adoçada apenas pelo sabor da cachaça que minorou sua amarga decepção.

E até hoje, reza a lenda, ou a tradição em seu transmissível afã, que ninguém ficou a saber o que seria esse tal de dan-dan.

Talvez, quem sabe, alguém aqui ou alhures saiba.

Mas, porém, todavia, contudo, antes de mais nada e além de tudo, dan-dan virou um mistério, um ponto de interrogação na vida de Rosineide e na de Roberval, sobretudo.

Copyright © RIVISTA - Todos os direitos reservados

Editora Riso Ltda EPP - CNPJ 05.895.459/0001-14  - Av. Santos Dumont, 1687 - Sl. 106 

Aldeota - Fortaleza - Ceará - CEP 60150-161

rivistadomino@gmail.com

  • Facebook - Círculo Branco
  • Twitter - Círculo Branco
  • Instagram - White Circle
bottom of page